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AS CONSEQUÊNCIAS do consumo da pornografia na sexualidade feminina

Saudável e excitante ou contribuição para objetificação e violência? Entenda o papel do pornô na saúde sexual das mulheres



Vestir uma lingerie sensual, usar um brinquedo erótico ou, ainda, testar aquela posição diferente na hora do sexo. A erotização e as fantasias têm papel fundamental para a saúde sexual feminina, pois elas incentivam a imaginação tão necessária para a excitação. Em busca dessas sensações, muitas mulheres passaram, assim como os homens, a recorrer à pornografia. Mas até que ponto consumi-la é saudável e quando pode se tornar um risco?

Na era da internet, é fato que o consumo de pornografia, especialmente em formato de vídeos, é enorme. E ele só cresceu com a pandemia. Os dois sites pornográficos mais acessados do mundo contabilizam cerca de 3 bilhões de visitantes mensais. Um deles, inclusive, notou pico de aumento de 24% nas visitações em março de 2020, logo depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciar a pandemia e recomendar o isolamento social para o combate à Covid-19.

Em relação ao gênero desses espectadores, uma pesquisa do Instituto Nielsen revela que ao menos um terço dos visitantes de sites de filmes pornô são mulheres. Outro dado, levantado pelo Pornhub – um dos maiores sites de vídeos eróticos do mundo – aponta que 80% dos acessos a materiais pornográficos vindos de dispositivos móveis vêm de mulheres.  E no Brasil, levantamento da Sexy Hot mostra que 24% dos assinantes do canal são do sexo feminino.

Ou seja: as mulheres descobriram o pornô.

Benefícios…

Na visão da ginecologista, obstetra e sexologista Lúcia Alves da Silva Lara, presidente da Comissão Nacional de Sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e coordenadora do Serviço de Saúde Sexual da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, a ampliação do acesso aos vídeos eróticos é benéfica para a mulher porque contribui na quebra da inibição para acessar esse tipo de material e, ainda, ajuda a melhorar o repertório sexual. Antes da internet, muitas tinham vergonha e medo de serem julgadas ao, por exemplo, comprar revistas eróticas ou alugar filmes pornôs em locadoras – atividades que os homens sempre fizeram sem reservas.

Mas a doutora Lúcia lembra que é preciso selecionar o material adequado para cada mulher, pois muitos podem contradizer valores e costumes individuais, causando constrangimento. “Os filmes que não têm um contexto erótico, que se baseiam meramente no sexo com penetração, em geral, não estimulam a resposta sexual feminina, que depende de intimidade. Mesmo nas relações casuais, é preciso construir um contexto de intimidade e sedução com o parceiro ou parceira para a mulher obter uma resposta satisfatória, o que os filmes exclusivamente de penetração não mostram”, afirma a especialista. 

A própria indústria pornográfica já notou esse aumento de consumo de pornografia por parte do público feminino e passou a investir em conteúdos específicos para mulheres. No lugar de corpos perfeitos, orgasmos espetaculares e penetração sem fim, a aposta é mostrar uma relação mais próxima da que ocorre (ou deveria ocorrer) na vida real. Nesses filmes, as cenas focam no prazer compartilhado, e não como um “privilégio” do homem, e atores e atrizes possuem corpos mais naturais. O objetivo: gerar identificação e, assim, favorecer o erotismo e as fantasias que são tão saudáveis para a saúde sexual da mulher.

… versus riscos

Ao mesmo tempo em que o acesso à pornografia cresce e pode trazer benefícios para a sexualidade feminina, há inúmeras denúncias de violência, principalmente ligadas à indústria tradicional de filmes pornôs. Algumas envolvem tráfico de mulheres e exploração infantil, além de conteúdo distribuído irregularmente, sem autorização das pessoas expostas. Há até mesmo um tipo de vingança que circula na internet, chamada de porn revenge, ou vingança pornográfica, que consiste em divulgar fotos e vídeos eróticos de alguém sem autorização com o objetivo claro de expor e prejudicar a vida social da pessoa.

Outro risco está no consumo exagerado de pornografia, especialmente na adolescência, que aumenta a possibilidade de objetificação da mulher, como explica a doutora Lúcia. “Principalmente a partir de 2011, vários estudos mostram que, quanto mais jovem o menino que consome pornografia, maior é o risco de ele, na vida adulta, considerar a mulher um mero objeto de prazer. E, do lado das meninas, maior é o risco delas não valorizarem a sua satisfação sexual, e de se submeterem ao prazer masculino como mero objeto sexual.”

Segundo estudos ligados à psicologia, a pornografia é uma das “tecnologias de gênero” da nossa sociedade, ao lado de filmes, músicas e outras obras de entretenimento que têm como objetivo fomentar determinadas subjetividades, performances e principalmente, emocionalidades. E o problema do pornô é justamente gerar nos homens essa objetificação da mulher, que já é ensinada socialmente para eles desde cedo. É aquela história de que a mulher brinca de casinha e de boneca enquanto a brincadeira do menino é de luta.

Todo esse contexto estimulado desde a infância pode levar à ocorrência de violências de gênero, das mais “simples”, como a desvalorização do orgasmo feminino na hora do sexo, às mais complexas, como estupros ou mesmo o feminícidio. Há, inclusive, quem seja totalmente contra o consumo, como o grupo Recuse a clicar, que reúne relatos de mulheres vítimas de violência cuja causa direta tenha sido a pornografia.

Pois é… como tudo na vida, o equilíbrio em relação à pornografia parece ser o melhor caminho. Desde que, claro, situações criminosas sejam combatidas e tenham seus responsáveis punidos.

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